Agro Brasileiro segue digitalizando rapidamente
Atualizado: 30 de mar. de 2021
Pesquisa da consultoria McKinsey confirma acelerada digitalização na pandemia

Na última quinta-feira participei da apresentação da segunda rodada da pesquisa “A mente do Agricultor Brasileiro na Era Digital”, lançada pela reconhecida consultoria internacional McKinsey & Company. No ano passado, em maio, quando foi apresentada a primeira rodada desta pesquisa, os dados mostrados já foram bem surpreendentes e com muitas conclusões importantes sobre o nível de digitalização dos produtores brasileiros. Por exemplo, demonstrando que os brasileiros já eram naquele momento mais digitalizados que seus pares Americanos.
Pois bem, um ano depois, talvez influenciados pela pandemia que ainda estamos enfrentando, a evolução do comportamento digital de nossos agricultores nos deixa cada vez mais entusiasmados com o caminho que estamos trilhando. Estes novos dados mostram que está em curso um acelerado crescimento do nível de adoção de canais digitais, em várias frentes, seja no processo de compra de insumos, na venda da produção ou no uso de tecnologias nas operações agropecuárias.
O trabalho da consultoria demonstra que após anos de profissionalização, a mudança geracional em curso está levando a uma consistente mudança comportamental de nossos produtores rurais. Isso vale para as reações frente a tecnologia, onde vemos uma nova atitude, com produtores mais conectados, interessados em conhecimento técnico, e dispostos a assumir riscos na adoção de inovação na sua jornada de cultivos.
As novas gerações que chegam, com mais educação e formação profissional, demonstram estar mais abertas ao uso de novos canais transacionais, privilegiando o preço em detrimento de marcas, e benefícios de custos ao invés de valorizar relacionamentos pessoais. Tudo isso se reflete na rápida expansão da preferência pelo uso de canais digitais, que no caso de compras agrícolas, saltando de 36% para 46% dos produtores nos últimos 12 meses. Se já estávamos em posição privilegiada no ano passado, nos distanciamos ainda mais dos EUA, com 31% e da Europa com 22%, como mostra o gráfico abaixo:

Este crescimento acelerado está muito relacionado com os processos de pesquisa, comparação e cotação de preços, seja nas compras de insumos ou de maquinário, mas com um avanço importante também nas interações para a compra. Como fica claro no próximo gráfico, esta tendência vem sendo percebida naqueles produtos que concentram os maiores custo de produção, incluindo fertilizantes, agroquímicos e sementes.

No lado da comercialização de produtos agropecuários, o movimento também está acontecendo e uma parcela importante dos produtores já demonstra interesse em adotar ferramentas digitais, e isso vale para os vários estratos de agropecuaristas pesquisados, nas diversas regiões. No gráfico abaixo fica evidente o desejo de utilização de soluções digitais, e uma evolução importante em 2021 frente a 2020.

Assim como no ano passado, o grande destaque é o uso do WhatsApp, uma ferramenta que representa mais da metade das interações em transações digitais. A novidade é que os Market Places já começam a aparecer com alguma relevância. Com um número ainda reduzido de participantes nesta modalidade, foram identificadas 8 plataformas no estudo, já representando 6% de uso para compras por produtores brasileiros. Veja em detalhes estes números por perfil de produtores no gráfico a seguir.

Neste ambiente ainda novo para muitos, a pesquisa mostrou que a decisão de utilização e escolha da melhor solução passa pela experiência do cliente nesta interação. Estes novos usuários, em sua grande maioria, levam muito em conta a facilidade de encontrar e comparar produtos na web, a disponibilidade de informações atualizadas, o atendimento rápido e fácil dos representantes, com assistência e suporte. Certamente, um campo vasto para que as plataformas digitais evoluam e prosperem. E chama atenção que atributos como marca e relacionamento pessoal já não tem a mesma importância do passado, veja no gráfico abaixo:

Apesar de todas as vantagens relacionadas a eficiência, ganhos de produtividade e renda, uma parcela importante dos agricultores ainda não tem acesso ou não está aderindo as mudanças em curso. Muito ainda temos de evoluir em termos de adoção das tecnologias disponíveis e, para isso, alguns gargalos precisam ser endereçados. Sejam os custos elevados, a infraestrutura disponível, ou mesmo o entendimento da utilização destas ferramentas. No gráfico a seguir estão apresentados estes obstáculos por perfil de produtores.

O trabalho da McKinsey focou em sete estratos de produtores, com culturas e regiões diversas pelo país e, pelos resultados, fica clara a disparidade entre estes perfis, seja pelos tamanhos de propriedades como pela faixa etária destes agropecuaristas. O comportamento certamente está mudando, especialmente em função das novas condições impostas pela pandemia, e deveremos continuar assistindo a esta aceleração da transformação digital do Agro. Um grande desafio para todos os participantes das cadeias produtivas do setor, mas um campo fértil para melhorias e oportunidades para aqueles que estejam alinhados na busca de mais eficiência, rentabilidade e sustentabilidade. Isso vale para produtores, mas também para as empresas e empreendedores que estejam almejando participar deste grande negócio que é o Agro!